Foi no
tempo em que Xerxes era rei da Pérsia. A capital era Susã, e o reino se dividia
em cento e vinte e sete províncias, que iam desde a Índia até a Etiópia.
No
terceiro ano do seu reinado, o rei deu um banquete para todos os seus oficiais
e servidores. Estavam presentes também os chefes dos exércitos da Pérsia e da
Média, e os governadores, e a gente da nobreza das províncias. Durante seis
meses Xerxes exibiu a todos as riquezas do seu reino e o luxo e o esplendor da
sua corte.
Depois
dos seis meses, o rei ofereceu nos jardins do palácio um banquete para todos os
moradores de Susã, tanto os ricos como os pobres. A festa durou uma semana. O
pátio estava todo enfeitado com cortinas de algodão brancas e azuis, amarradas
com cordões de fino linho vermelho, que estavam presos por argolas de prata a
colunas de mármore. O piso era feito de ladrilhos azuis, de mármore branco, de madrepérola
e de pedras preciosas. Nesse pátio havia sofás de ouro e de prata. Os
convidados tomavam as bebidas em copos de ouro, todos eles diferentes uns dos
outros, e o rei mandou que o seu vinho fosse servido à vontade. Todos podiam
beber o quanto quisessem; o rei havia ordenado aos empregados do palácio que
servissem a todos os hóspedes quanto vinho eles quisessem.
A
rainha Vasti também ofereceu no palácio real um banquete para todas as mulheres
dos convidados.
No
sétimo dia de banquetes, o rei já havia bebido bastante vinho e estava muito
alegre. Aí ele mandou chamar os sete eunucos que eram os seus servidores
particulares. Eles se chamavam Meumã, Bizta, Harbona, Bigtá, Abagta, Zetar e
Carcas. O rei ordenou que eles fossem buscar a rainha Vasti e que ela viesse
com a coroa de rainha na cabeça. Ela era muito bonita, e o rei queria que os
nobres e os outros convidados admirassem a sua beleza. Mas a rainha não atendeu
a ordem do rei, e por isso ele ficou furioso.
Antes
de tomar qualquer decisão, o rei consultava os entendidos em questões de lei e
de costumes. Portanto, mandou chamar os conselheiros em quem ele tinha mais
confiança, isto é, Carsena, Setar, Admata, Társis, Meres, Marsena e Memucã.
Estes eram os sete ministros da Pérsia e da Média que ocupavam as mais altas
posições no reino e serviam como conselheiros íntimos do rei. Ele perguntou:
— Eu,
o rei Xerxes, mandei por meio dos meus servidores uma ordem à rainha Vasti, mas
ela não obedeceu. De acordo com a lei, o que deve ser feito?
Aí
Memucã disse ao rei e aos seus ministros:
— O
que a rainha fez é uma ofensa não somente contra o senhor e os seus ministros,
mas também contra os homens de todas as províncias do reino. Pois, quando em
todo o reino as mulheres souberem do que a rainha fez, elas irão desprezar os
seus maridos. E vão dizer: “O rei Xerxes mandou buscar a rainha Vasti, e ela
não foi.” Hoje mesmo — continuou Memucã — as mulheres das altas autoridades da
Pérsia e da Média vão saber do que a rainha Vasti fez e vão contar aos seus
maridos. E por toda parte as mulheres não respeitarão os seus maridos, e os
maridos ficarão zangados com as suas mulheres. Portanto, se for da sua vontade,
ó rei, assine um decreto proibindo a rainha Vasti de aparecer na presença do
senhor. E mande escrever isso nos livros das leis da Pérsia e da Média, para
que nunca possa ser anulado. Depois arranje uma mulher que seja melhor do que
Vasti, para ser rainha no lugar dela. Quando a ordem do rei for anunciada por
todo este enorme reino, então todas as mulheres tratarão com respeito os seus
maridos, sejam ricos ou pobres.
O rei
e os seus ministros gostaram da ideia, e ele fez o que Memucã tinha sugerido.
Ele enviou cartas a todas as províncias do reino, cada carta na língua e na
escrita de cada província e de cada povo, mandando que todo marido fosse chefe
da sua casa e que tivesse sempre a última palavra.
Mais
tarde a raiva do rei já havia passado, mas mesmo assim ele continuava a pensar
no que Vasti havia feito e no decreto que ele havia assinado contra ela. Aí
alguns dos seus servidores mais íntimos lhe disseram:
— Ó
rei, mande buscar as mais lindas virgens do reino. Escolha funcionários em
todas as províncias e ordene que tragam as moças mais bonitas para o seu harém
aqui em Susã, a capital. Hegai, o eunuco responsável pelo harém real, tomará
conta delas e fará com que recebam um tratamento de beleza. E então, ó rei, que
a moça que mais lhe agradar seja a rainha no lugar de Vasti.
O rei
gostou da ideia e fez o que lhe sugeriram.
Em
Susã morava um judeu chamado Mordecai, filho de Jair e descendente de Simei e
de Quis, da tribo de Benjamim. Quando o rei Nabucodonosor, da Babilônia, levou
de Jerusalém como prisioneiro o rei Joaquim, de Judá, Mordecai estava entre os
prisioneiros que foram levados com Joaquim. Mordecai levou consigo a sua prima
Hadassa, isto é, Ester, uma moça bonita e formosa. Os pais dela tinham morrido,
e Mordecai havia adotado a menina e a tinha criado como se ela fosse sua filha.
Quando
o rei mandou anunciar a ordem, muitas moças foram levadas para Susã, a capital,
e entregues aos cuidados de Hegai, o chefe do harém do palácio. Uma dessas
moças era Ester. Hegai gostou dela, e ela conquistou a simpatia dele.
Imediatamente ele começou a providenciar para ela o tratamento de beleza e a
comida especial. Arranjou sete das melhores empregadas do palácio para cuidarem
dela e colocou Ester e as empregadas nos melhores quartos do harém.
Ester
fez conforme Mordecai tinha mandado e não disse nada a ninguém a respeito da
sua raça e dos seus parentes. Todos os dias Mordecai passeava em frente do
pátio do harém para saber como Ester estava passando e o que ia acontecer com
ela.
O
tratamento de beleza das moças durava um ano; durante seis meses eram usados
perfumes de mirra e, no resto do ano, outros perfumes e produtos de beleza.
Terminado o tratamento, cada moça era levada ao rei Xerxes. Quando chegava a
sua vez de ir do harém até o palácio, cada moça tinha o direito de levar tudo o
que quisesse. À tarde, ela ia ao palácio, e na manhã seguinte ia para outro harém,
e era entregue aos cuidados de Saasgaz, o eunuco responsável pelas concubinas
do rei. Ela não voltava a se encontrar com o rei, a não ser que ele gostasse
dela e mandasse chamá-la pelo nome.
Chegou
a vez de Ester, filha de Abiail e prima de Mordecai, a moça que Mordecai tinha
criado, a moça que conquistava a simpatia de todos os que a conheciam. Quando
chegou a sua vez de se encontrar com o rei, ela levou somente aquilo que Hegai,
o eunuco responsável pelo harém, havia recomendado. Ester foi levada ao palácio
para apresentar-se ao rei Xerxes no mês de tebete, o décimo mês do sétimo ano
do seu reinado. Ele gostou dela mais do que de qualquer outra moça, e ela
conquistou a simpatia e a admiração dele como nenhuma outra moça havia feito.
Ele colocou a coroa na cabeça dela e a fez rainha no lugar de Vasti. Depois ele
deu um grande banquete em honra de Ester e convidou todos os oficiais e
servidores. Ele decretou que aquele dia fosse feriado no reino inteiro e
distribuiu presentes que só um rei poderia oferecer.
Durante
o tempo em que as moças estavam sendo transferidas para o outro harém, Mordecai
tinha sido nomeado pelo rei para ocupar um cargo no governo. Seguindo o
conselho de Mordecai, Ester ainda não tinha dito a ninguém que era judia. Ela
continuava a obedecer a Mordecai, como tinha feito nos tempos de menina, quando
ele a estava criando.
Naqueles
dias Mordecai, fazendo o seu serviço no palácio, ficou sabendo que Bigtã e
Teres, dois eunucos que eram guardas no palácio, estavam zangados com o rei e
planejavam matá-lo. Aí Mordecai contou isso à rainha Ester, e ela disse ao rei
o que Mordecai havia descoberto. Houve uma investigação, e descobriu-se que era
verdade; então os dois eunucos foram enforcados. E o rei ordenou que fosse
registrado um relatório sobre isso no livro em que se escrevia a história do
reino.
Depois
disso, o rei Xerxes colocou um homem chamado Hamã no cargo de
primeiro-ministro. Hamã era filho de Hamedata e descendente de Agague. O rei
ordenou que todos os funcionários do palácio se curvassem e se ajoelhassem
diante de Hamã em sinal de respeito. E todos os funcionários começaram a fazer
isso, menos Mordecai; ele não se curvava, nem se ajoelhava. Aí os outros
funcionários perguntaram a Mordecai por que ele não obedecia à ordem do rei. Todos
os dias eles insistiam com ele para que obedecesse, mas não adiantava. Ele
explicava que não obedecia porque era judeu. Então eles foram contar isso a
Hamã, para ver se Mordecai continuaria a desobedecer à ordem do rei. Hamã ficou
furioso quando viu que Mordecai não se ajoelhava em honra dele. E, quando lhe
disseram que Mordecai era judeu, Hamã achou que não bastava matar somente
Mordecai; ele fez planos para matar também todos os judeus que havia no reino
de Xerxes.
No ano
doze do reinado de Xerxes, no primeiro mês, o mês de nisã, Hamã ordenou que
tirassem a sorte (chamava-se isso de “purim”), para decidir o dia e o mês em
que os judeus seriam mortos. Foi sorteado o dia treze do décimo segundo mês, o
mês de adar. Hamã foi e disse ao rei:
— Por
todas as províncias do reino, está espalhado um povo que segue leis diferentes
das leis dos outros povos. O pior, ó rei, é que eles não obedecem às suas
ordens, e por isso não convém que o senhor tolere que eles continuem agindo
assim. Se o senhor quiser, assine um decreto ordenando que eles sejam mortos. E
eu prometo depositar nos cofres reais trezentos e quarenta e dois mil quilos de
prata para pagar as despesas do governo.
O rei
tirou o seu anel-sinete, que servia para carimbar as suas ordens, e o deu a
Hamã, filho de Hamedata e descendente de Agague, o inimigo dos judeus. E o rei
lhe disse:
—
Fique com o seu dinheiro, e essa gente eu entrego nas suas mãos. Faça com eles
o que quiser.
No dia
treze do primeiro mês, Hamã mandou chamar os secretários do palácio e ditou a
ordem. Ele ordenou que fosse traduzida para todas as línguas faladas no reino e
que cada tradução seguisse a escrita usada em cada província. A ordem devia ser
enviada a todos os representantes do rei, aos governadores das províncias e aos
chefes dos vários povos. Ela foi escrita em nome do rei, carimbada com o seu
anel-sinete e levada por mensageiros a todas as províncias do reino. A ordem
era matar todos os judeus num dia só, o dia treze do décimo segundo mês, o mês
de adar. Que todos os judeus fossem mortos, sem dó nem piedade: os moços e os
velhos, as mulheres e as crianças. E a ordem mandava também que todos os bens
dos judeus ficassem para o governo. Em cada província deveria ser feita uma
leitura em público dessa ordem, a fim de que, quando chegasse o dia marcado,
todos estivessem prontos.
O rei
deu a ordem, e os mensageiros foram depressa a todas as províncias; e em Susã,
a capital, a ordem foi lida em público. O rei e Hamã se assentaram para beber,
enquanto a confusão se espalhava pela cidade.
Quando
Mordecai soube de tudo isso, rasgou a roupa em sinal de tristeza, vestiu uma
roupa feita de pano grosseiro, pôs cinza na cabeça e saiu pela cidade, chorando
e gritando. Quando chegou à entrada do palácio, ele não entrou, pois quem
estivesse vestido daquela maneira não podia entrar. E, em todas as províncias,
em todos os lugares onde foi lida a ordem do rei, os judeus começaram a chorar
em voz alta. Eles se lamentaram, choraram e jejuaram, e muitos deles vestiram
roupas feitas de pano grosseiro e se deitaram sobre cinzas.
Ester
ficou muito aflita quando as suas empregadas e os seus eunucos lhe contaram o
que havia acontecido. Ela mandou roupas para Mordecai vestir, mas ele não quis.
Então ela mandou chamar Hataque, um dos eunucos do palácio, que tinha sido
escolhido para atendê-la, e ordenou que ele fosse falar com Mordecai para saber
o que estava acontecendo e qual era a razão de tudo aquilo. Hataque foi
procurar Mordecai na praça que havia em frente do palácio, e Mordecai contou
tudo o que tinha acontecido com ele. Disse também a quantia exata que Hamã
tinha prometido depositar nos cofres do rei como pagamento pela destruição de
todos os judeus. Mordecai entregou a Hataque uma cópia do decreto que havia
sido lido por toda a cidade de Susã, ordenando que os judeus fossem mortos. E
Mordecai pediu a Hataque que levasse a cópia a Ester, explicasse tudo direito e
pedisse a ela que fosse falar com o rei e insistisse que ele tivesse piedade do
povo dela. Hataque fez o que Mordecai tinha pedido, e Ester mandou Hataque
entregar a seguinte resposta a Mordecai: “É do conhecimento de todos, desde os
servidores do palácio até os moradores de todas as províncias, que ninguém,
seja homem ou mulher, pode entrar no pátio de dentro do palácio para falar com
o rei, a não ser que tenha recebido ordem para isso. A lei é esta: quem entrar
sem licença do rei será morto, a não ser que o rei estenda o seu cetro de ouro
para essa pessoa. E já faz um mês que o rei não me manda chamar.”
Quando
recebeu a mensagem de Ester, Mordecai mandou o seguinte recado para ela: “Não
pense que, por morar no palácio, só você, entre todos os judeus, escapará da
morte. Se você ficar calada numa situação como esta, do Céu virão socorro e
ajuda para os judeus, e eles serão salvos; porém você morrerá, e a família do
seu pai desaparecerá. Mas quem sabe? Talvez você tenha sido feita rainha
justamente para ajudar numa situação como esta!”
Ester
enviou a Mordecai a seguinte resposta: “Vá e reúna todos os judeus que
estiverem em Susã, e todos vocês jejuem e orem por mim. Durante três dias não
comam nem bebam nada, nem de dia nem de noite. Eu e as minhas empregadas também
jejuaremos. Depois irei falar com o rei, mesmo sendo contra a lei; e, se eu
tiver de morrer por causa disso, eu morrerei.”
Aí
Mordecai foi e fez tudo o que Ester havia mandado.
No
terceiro dia de jejum, Ester se vestiu com as suas roupas de rainha, foi e
ficou esperando no pátio de dentro do palácio, em frente do salão nobre do rei.
Ele estava lá dentro, sentado no trono, que ficava em frente da porta do pátio.
E, quando ele viu a rainha Ester esperando lá fora no pátio, teve boa vontade
para com ela e estendeu-lhe o seu cetro de ouro. Ester entrou, chegou perto
dele e tocou na ponta do cetro. E o rei perguntou:
— O
que está acontecendo, rainha Ester? O que você deseja? Peça o que quiser, que
eu lhe darei, mesmo que seja a metade do meu reino.
Ester
respondeu:
— Se
for do seu agrado, eu gostaria de convidar o senhor e Hamã para o banquete que
estou preparando hoje para o senhor.
Aí o
rei ordenou:
—
Digam a Hamã que venha depressa, para que nós aceitemos o convite de Ester.
Assim
o rei e Hamã foram ao banquete que Ester havia preparado. Quando estavam
bebendo vinho, o rei perguntou a Ester:
— Qual
é o seu pedido? Peça o que quiser, que eu lhe darei, mesmo que seja a metade do
meu reino.
Ester
respondeu:
— É o
seguinte: se eu puder me valer da bondade do rei, e se for do seu agrado
atender o meu pedido, gostaria de convidar o senhor e Hamã para outro banquete
que eu vou preparar amanhã para os dois. Aí lhe direi o que eu quero.
Hamã
saiu do banquete alegre e feliz da vida. Porém, quando chegou perto da entrada
do palácio, ele encontrou Mordecai ali e ficou furioso porque Mordecai não se
curvou diante dele, nem fez qualquer outro sinal de respeito. Mas ele se
controlou e voltou para casa. Então mandou chamar os amigos e pediu que Zeres,
a sua mulher, também viesse. Hamã começou a falar da sua riqueza, do número de
filhos que tinha, das promoções que havia recebido do rei e de como agora
ocupava a mais alta posição do reino, acima de todos os outros ministros e
funcionários. E continuou:
— Além
de tudo isso, eu fui a única pessoa que a rainha Ester convidou para acompanhar
o rei ao banquete que ela preparou para ele. E ela também me pediu que eu fosse
com ele a outro banquete amanhã! Mas tudo isso não me vale nada enquanto eu
continuar vendo Mordecai, aquele judeu, sentado na entrada do palácio.
Aí a
mulher dele e todos os amigos deram a seguinte sugestão:
—
Mande fazer uma forca de uns vinte metros de altura e amanhã de manhã peça ao
rei que mande enforcar Mordecai. Então você poderá ir feliz com o rei ao
banquete.
Hamã
gostou da ideia e mandou construir a forca.
Naquela
mesma noite, o rei não conseguiu pegar no sono; então mandou buscar o livro em
que se escrevia o que acontecia no reino e ordenou que os seus funcionários
lessem para ele. A parte que leram contava como Mordecai tinha descoberto o
plano para matar o rei, plano este preparado por Bigtã e Teres, os dois eunucos
que eram guardas do palácio. Aí o rei perguntou:
— Que
homenagens foram prestadas e que prêmios foram dados a Mordecai por ter feito
isso?
— Nada
se fez a esse respeito! — responderam os funcionários.
Justamente
nesse instante, Hamã entrou no pátio que ficava ao lado dos quartos do rei para
lhe pedir que mandasse enforcar Mordecai na forca que ele, Hamã, havia mandado
construir. O rei perguntou:
— Quem
está no pátio?
— É
Hamã! — responderam os servidores.
—
Mandem que entre! — ordenou o rei.
Hamã
entrou, e o rei lhe disse:
— Eu
quero ter o prazer de prestar homenagens a um certo homem. Diga-me o que devo
fazer por ele.
Hamã
pensou assim: “Quem será esse homem a quem o rei tanto quer honrar? É claro que
sou eu!” E Hamã disse ao rei:
—
Mande trazer as roupas que o senhor usa e também o cavalo que o senhor monta e
mande colocar uma coroa real na cabeça do cavalo. Então entregue as roupas e o
cavalo a um dos mais altos funcionários do reino e ordene que ele vista as
roupas no homem que o senhor deseja honrar. Depois, que ele leve o homem,
montado a cavalo, pela praça principal da cidade e que diga em voz alta o
seguinte: “É isto o que o rei faz pelo homem a quem ele quer honrar!”
Então
o rei disse a Hamã:
— Vá
depressa, e pegue as roupas e o cavalo, e faça com o judeu Mordecai tudo o que
você acaba de dizer. Ele costuma ficar sentado na entrada do palácio. Não deixe
de fazer nenhuma das coisas que você disse.
Hamã
foi, pegou as roupas e o cavalo e vestiu as roupas em Mordecai. Depois levou
Mordecai, montado a cavalo, pela praça principal da cidade e disse em voz alta:
“É isto o que o rei faz pelo homem a quem ele quer honrar!”
Depois
disso, Mordecai voltou para a entrada do palácio, enquanto que Hamã,
envergonhado e triste, correu para casa, escondendo o rosto. Contou à esposa e
aos amigos tudo o que tinha acontecido com ele. Então ela e os seus amigos, que
eram tão sabidos, disseram:
— Você
já começou a perder a luta com Mordecai. Ele é judeu, e você não vai ganhar de
jeito nenhum. Você vai perder na certa.
Eles
ainda estavam falando quando os eunucos que estavam ao serviço do rei chegaram
e levaram Hamã imediatamente ao banquete que Ester tinha preparado.
Portanto,
o rei e Hamã foram de novo ao banquete da rainha Ester, e novamente, enquanto
bebiam vinho, o rei perguntou a Ester:
— Qual
é o seu pedido? Peça o que quiser, que eu lhe darei, mesmo que seja a metade do
meu reino.
Ela
respondeu:
— Se
eu puder me valer da bondade do rei, e se for do seu agrado, a única coisa que
quero é que o senhor salve a minha vida e a vida do meu povo. Pois o meu povo e
eu fomos vendidos para sermos destruídos e mortos. Se fosse somente o caso de
sermos todos vendidos como escravos, eu não diria nada, pois não seria justo
incomodar o senhor por causa de uma desgraça tão sem importância como esta.
O rei
Xerxes perguntou à rainha Ester:
— Quem
é o homem que está pensando em fazer isso e onde está ele?
— O
nosso inimigo e perseguidor é Hamã, este homem perverso! — respondeu Ester.
Cheio
de medo, Hamã ficou olhando para o rei e para a rainha. O rei saiu furioso do
salão de banquetes e foi para o jardim. Hamã percebeu que o rei havia resolvido
castigá-lo e por isso ficou no salão para pedir à rainha que salvasse a sua
vida. Ele se jogou no sofá onde Ester estava, para pedir misericórdia, e nesse
instante o rei voltou do jardim. Quando viu Hamã, o rei disse:
— Será
que ele pretende desonrar a rainha aqui no meu palácio e na minha frente?
Assim
que o rei acabou de falar, os seus servidores particulares cobriram a cabeça de
Hamã. Um deles, chamado Harbona, disse:
—
Perto da casa de Hamã há uma forca de uns vinte metros de altura que ele mandou
construir para enforcar Mordecai, o homem que salvou a vida do senhor.
—
Enforquem Hamã nela! — ordenou o rei.
Então
enforcaram Hamã na forca que ele tinha construído para enforcar Mordecai.
E
assim a raiva do rei se acalmou.
Naquele
mesmo dia o rei Xerxes deu à rainha Ester a casa e os bens de Hamã, o inimigo
dos judeus. E Mordecai foi apresentado ao rei porque Ester contou que Mordecai
era seu parente. Então o rei tirou o seu anel-sinete, que ele tinha tomado de
Hamã, e o deu a Mordecai. E Ester nomeou Mordecai como administrador de todos
os bens de Hamã.
Depois
Ester se jogou aos pés do rei e, chorando, pediu que anulasse a ordem de Hamã,
o descendente de Agague, e que não deixasse que o terrível plano de Hamã contra
os judeus fosse executado. O rei estendeu o cetro de ouro para Ester; ela se
levantou e ficou de pé diante dele. Então disse:
— Se
for do agrado do rei, e se eu puder contar com a sua bondade, e se o senhor
achar que o que eu peço está certo, então assine um decreto anulando a ordem de
Hamã, a ordem que o filho de Hamedata e descendente de Agague deu para que no
reino inteiro todos os judeus sejam mortos. Pois eu não poderei suportar a
destruição do meu povo e a morte dos meus parentes!
E o
rei Xerxes disse à rainha Ester e ao judeu Mordecai:
— Eu
mandei enforcar Hamã por causa do plano que ele havia feito para matar os
judeus e dei todos os seus bens a Ester. Mas uma ordem dada em nome do rei e
carimbada com o anel real não pode ser anulada. Porém escrevam o que quiserem
aos judeus, assinem em meu nome e selem as cartas com o meu anel.
Isso
aconteceu no dia vinte e três do terceiro mês, o mês de sivã. Mordecai mandou chamar
os secretários do rei e ditou um decreto aos judeus, aos representantes do rei,
aos governadores das províncias e aos chefes dos vários povos em todas as
províncias do reino, que eram cento e vinte e sete ao todo e iam desde a Índia
até a Etiópia. O decreto foi traduzido para todas as línguas faladas no reino,
e cada tradução seguia a escrita usada em cada província; o decreto foi copiado
também na língua e na escrita dos judeus. As cartas foram escritas em nome do
rei, carimbadas com o anel real e levadas por mensageiros montados em cavalos
criados nas estrebarias do rei. Nas cartas, o rei dava autorização aos judeus
de todas as cidades do reino para se organizarem e se defenderem contra
qualquer ataque. Se homens armados de qualquer povo ou qualquer província do
reino atacassem os judeus, estes podiam combatê-los e matá-los. Podiam acabar
com todos os seus inimigos, até mesmo as mulheres e as crianças, e ficar com os
seus bens. Em todas as províncias, os judeus tinham ordem para fazer isso no
dia marcado para a matança, isto é, o dia treze do décimo segundo mês, o mês de
adar. Uma cópia da ordem do rei devia ser publicada como lei e ser lida em
público em todas as províncias, para que no dia marcado os judeus estivessem
prontos para se vingar dos seus inimigos. O rei deu a ordem, os mensageiros
montaram cavalos ligeiros da estrebaria real e saíram depressa. O decreto foi
lido em público também em Susã, a capital.
Mordecai
saiu do palácio usando uma roupa real azul e branca, com uma grande coroa de
ouro na cabeça, e uma capa vermelha de linho fino. Todos os moradores da cidade
de Susã ficaram muito contentes e soltaram gritos de alegria. E para os judeus
brilhou a luz da felicidade, da alegria e da vitória. Em todas as cidades do
reino onde foi lida a ordem do rei, os judeus ficaram felizes, e se alegraram,
e comemoraram com festas e banquetes. Além disso, entre os vários povos do
reino muitos se tornaram judeus, pois agora estavam com medo deles.
Chegou
o dia treze do décimo segundo mês, o mês de adar, o dia em que deveria ser
cumprida a ordem do rei. Era o dia em que os inimigos dos judeus esperavam
dominá-los; mas o que aconteceu foi o contrário: os judeus derrotaram os seus
inimigos. Em todas as cidades do reino onde havia judeus, eles se reuniram para
atacar os que queriam matá-los. Ninguém podia resistir aos seus ataques, pois
todos estavam com medo deles. Todos os oficiais das províncias, isto é, os
chefes dos vários povos, os representantes do rei e os governadores das
províncias, ajudaram os judeus, pois tinham medo de Mordecai. A fama dele se
havia espalhado pelo reino inteiro, e todos sabiam que ele tinha muita
autoridade no governo. E o poder de Mordecai ia aumentando cada vez mais.
Portanto,
os judeus fizeram com os seus inimigos o que queriam. Mataram todos com as suas
espadas; não deixaram ninguém escapar. Em Susã, a capital, eles mataram
quinhentos homens. Mataram também os dez filhos de Hamã, filho de Hamedata, o
inimigo dos judeus. Os nomes deles eram Parsandata, Dalfão, Aspatá, Porata, Adalias,
Aridata, Parmasta, Arisai, Aridai e Vaizata. Mas os judeus não ficaram com os
bens deles.
Naquele
mesmo dia, o rei foi informado de quantas pessoas haviam sido mortas em Susã.
Então disse a Ester:
— Aqui
em Susã os judeus mataram quinhentos homens e também os dez filhos de Hamã. E,
nas províncias, quantos eles terão matado? O que é que você quer agora? É só
pedir. Se quiser mais alguma coisa, eu lhe darei.
Ester
respondeu:
— Se
for do agrado do rei, dê autorização aos judeus de Susã para fazerem amanhã o
mesmo que tinham ordem para fazer hoje. E peço também que os corpos dos dez
filhos de Hamã sejam pendurados em forcas.
O rei
concordou e mandou ler a autorização em público em Susã. E os corpos dos dez
filhos de Hamã foram pendurados em forcas. No dia catorze do mês de adar, os
judeus de Susã se reuniram e mataram mais trezentos homens na cidade. Mas não
ficaram com os bens deles.
No dia
treze do mês de adar, os judeus das províncias se reuniram e se defenderam.
Mataram setenta e cinco mil inimigos e assim se livraram de todos os que os
odiavam. Mas não ficaram com os bens dos mortos. No dia catorze, eles
descansaram e comemoraram com banquetes e festas. Mas em Susã os judeus
comemoraram no dia quinze do mês, pois nos dias treze e catorze eles mataram os
seus inimigos e só no dia quinze descansaram. É por isso que os judeus que
vivem em vilas e povoados comemoram o dia catorze de adar com banquetes e
festas e mandam comida uns aos outros.
Mordecai
escreveu tudo o que havia acontecido e mandou cartas a todos os judeus que
moravam em todas as províncias do reino, tanto aos de perto como aos de longe.
Nas cartas ele ordenou que todos os anos eles comemorassem os dias catorze e
quinze do mês de adar, pois foi nestes dias que os judeus se livraram dos seus
inimigos, e foi neste mês que a tristeza e o luto se transformaram em alegria e
festa. Portanto, que dessem banquetes e festas, mandassem comida uns aos outros
e distribuíssem presentes aos pobres. Assim os judeus, de acordo com o que
Mordecai tinha escrito, começaram o costume de comemorar esses dias.
Hamã,
filho de Hamedata, descendente de Agague e inimigo dos judeus, tinha planejado
acabar com eles e tinha mandado tirar a sorte (chama-se isso de “purim”) para
resolver em que dia ia matá-los. Mas Ester foi falar com o rei, e ele ordenou
por escrito que o mal que Hamã havia planejado contra os judeus caísse sobre o
próprio Hamã. Portanto, enforcaram Hamã e os seus filhos. É por isso que esses
dias feriados são chamados de “Purim”, que é o plural da palavra “pur”.
Como
resultado da carta de Mordecai e de tudo o que os judeus tinham visto e das
coisas que aconteceram, eles resolveram que eles mesmos, os seus descendentes e
os que se convertessem ao Judaísmo seguiriam o costume de comemorar todos os
anos esses dois dias, conforme Mordecai havia escrito. Ficou resolvido que daí
em diante toda família judaica, em todas as cidades das províncias do reino,
comemoraria a Festa de Purim, para que os judeus lembrassem sempre do que havia
acontecido. Nunca, em qualquer época, deixariam de comemorar essa festa.
A
rainha Ester, filha de Abiail, também escreveu uma carta junto com o judeu
Mordecai, dando todo o seu apoio à carta que Mordecai já havia escrito a
respeito da Festa de Purim. Cópias da carta foram mandadas a todos os judeus
das cento e vinte e sete províncias do reino, desejando-lhes paz e prosperidade
e confirmando que a Festa de Purim devia ser comemorada nos dias marcados.
Assim como haviam marcado para si mesmos e para os seus descendentes dias de festas
e de jejum, eles deveriam seguir essas ordens do judeu Mordecai e da rainha
Ester. A ordem de Ester, confirmando as instruções para a comemoração de Purim,
foi escrita num livro.
O rei
Xerxes obrigou os moradores do seu reino, tanto os do litoral como os do
interior, a fazerem trabalhos forçados. Todas as grandes e maravilhosas coisas
que Xerxes fez e também a história completa de como colocou Mordecai num alto
cargo do seu governo, tudo isso está escrito nos livros da História dos Reis da
Média e da Pérsia. O judeu Mordecai ocupou a mais alta posição do reino, logo
abaixo do rei Xerxes. Mordecai era admirado e estimado por todos os judeus. Ele
fez tudo o que pôde pelo bem-estar do seu povo e pelo progresso da sua raça.
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