A linda história de Mary Jones em vídeo:
Esta
é uma história verdadeira. Aconteceu há mais de 200 anos. Fala sobre Mary
Jones, uma menina cujo desejo de ter uma Bíblia inspirou o movimento das
Sociedades Bíblicas.
Mary
nasceu por volta de 1785, no País de Gales, na Europa. Ela vivia com seus pais
numa casa feita de pedras, numa vila rodeada de montanhas.
O
senhor Jones, pai de Mary, era um tecelão pobre. A mãe de Mary, a senhora
Jones, era dona de casa e ocupava-se com as tarefas do lar.
Como
era comum naquele tempo, nem o pai nem a mãe de Mary sabiam ler. Eles não
tinham nenhum livro em casa, nem mesmo uma Bíblia. As Bíblias, aliás, eram
muito raras naquele tempo, e, como todos os livros, muito caras também.
Nos
dias de hoje, para aprender ler e escrever, as crianças vão à escola. Mas na
época de Mary havia muito poucas escolas. Das poucas que havia, nenhuma ficava
perto da casa de Mary e, por isso, embora ela tivesse muita vontade de aprender
a ler, não havia quem a ensinasse.
Mary
ajudava a mãe nos trabalhos de casa: limpava o chão, alimentava as galinhas,
cozinhava… Enfim, Mary colaborava com sua mãe para deixar a casa em ordem.
Aos
domingos, Mary colocava seu melhor vestido e ia com seus pais para a igreja que
havia no vilarejo. A igreja ficava a uns três quilômetros da casa da família
Jones.
Na
igreja, Mary gostava de cantar os hinos. Ela sabia uma porção de hinos de cor,
e se esforçava para aprender a letra de outros hinos. O que era difícil para
Mary entender era o que o pastor dizia nos seus sermões. Ela não compreendia
todas as palavras que ele dizia, nem conhecia todas as histórias da Bíblia que
o pastor mencionava. Ele falava para gente grande, e ela era apenas uma
criança. Mesmo assim, Mary gostava muito de ir com os seus pais à igreja e
procurava aprender tudo o que conseguia, em especial as histórias daquele livro
grande de capa preta que era lido domingo após domingo pelo pastor. Mesmo não
sabendo ler, Mary tinha uma admiração especial por aquele livro, por seus
personagens e histórias.
Quando
o culto terminava, Mary se aproximava do livro para admirá-lo. Na capa, ela via
duas palavras escritas com tinta dourada. Imaginava que estivesse escrito: BÍBLIA SAGRADA
Era
assim que o pastor chamava o livro quando o pegava para ler. Ao abrir o livro,
Mary se perguntava:
—
Como é que alguém pode entender todos esses rabiscos?
E
continuava sonhando:
—
Ah! Se eu pudesse ler esse livro! Ele tem tanta coisa bonita! Ah! Se eu tivesse
minha própria Bíblia para ler em casa!
Um
dia, quando Mary já tinha quase dez anos, o senhor Jones chegou em casa com uma
novidade maravilhosa: em pouco tempo, haveria uma nova escola a cerca de três
quilômetros da casa deles! E assim, finalmente, Mary poderia ir à escola e
aprender a ler e escrever.
Numa
fazenda não muito longe da casa de Mary, vivia a senhora Evans. Ela sabia que
Mary tinha sido matriculada numa escola e que logo saberia ler. Como todas as
pessoas daquela vila, a senhora Evans também sabia muito bem do amor de Mary
pelas histórias da Bíblia. Foi então que a senhora Evans fez uma promessa para
Mary:
—
Mary querida, assim que você tiver aprendido a ler, pode vir à minha casa para
treinar sua leitura com a Bíblia que a minha família possui.
Mary
era uma boa aluna. Foi a primeira pessoa de sua família que aprendeu a ler.
Essa vitória foi recompensada quando o professor de Mary na escola a convidou
para ler, diante de todos, uma história da Bíblia Sagrada. Ela ficou muito
feliz nessa ocasião, e logo lembrou do convite da senhora Evans.
Num
sábado de manhã, Mary foi à casa da senhora Evans para ver de perto a Bíblia
daquela família. Sobre uma pequena mesa no canto da sala, coberta por uma capa
bordada, Mary viu a Bíblia Sagrada.
—
Chegue mais perto, Mary — disse a senhora Evans.
Mas
Mary estava até com medo de tocar no grande livro. Ela limpou as mãos, virou
lentamente algumas páginas e começou a ler.
Quando
Mary voltou para casa, havia um só desejo no coração dela: ter a sua própria
Bíblia. Foi então que Mary pediu que seu pai fizesse um cofrinho de madeira em
que ela pudesse guardar as suas economias.
Mary
começou a trabalhar: tricotava e vendia meias, remendava roupas, criava
galinhas e vendia os ovos, ajudava os fazendeiros a cuidar dos animais e a
fazer as colheitas. Além disso, carregava água do poço até as casas que
pedissem. Guardava cada centavo que conseguia. Aos sábados, ela ia visitar a
senhora Evans e ler a Bíblia.
Depois
de um ano, Mary contou o dinheiro do cofrinho, mas ainda não dava para comprar
uma Bíblia. Foi uma amarga decepção, mas Mary persistiu. Ano após ano, ela
trabalhou e economizou. Só depois de seis anos, Mary conseguiu o dinheiro
suficiente para comprar a sua própria Bíblia. Nessa época, Mary estava com 16
anos
Mas
aí surgiu uma segunda dificuldade: onde Mary poderia comprar uma Bíblia? Não
havia Bíblias à venda em sua pequena cidade. Nem mesmo o pastor tinha uma
Bíblia à disposição. Mary ouviu que Bíblias eram vendidas na cidade de Bala,
que ficava a pelo menos 40 quilômetros de distância. Para chegar a Bala, Mary
teria que percorrer um longo caminho que atravessava montanhas e florestas. A
viagem era perigosa mesmo para uma jovem de 16 anos. No entanto, Mary tinha
apenas um pensamento:
—
Sonhei muitos anos com isso e estou disposta a conseguir a minha Bíblia!
O grande
dia chegou. De manhã, bem cedo, a família Jones pediu a proteção de Deus para a
viagem de Mary.
Em
seguida, Mary se despediu carinhosamente de seus pais. Mary levava consigo três
coisas: um lanche para o caminho, o dinheiro que ela arduamente havia ajuntado
e um par de sapatos que ela pretendia calçar só quando estivesse perto de Bala.
Como era pobre, Mary fez a longa viagem de 40 quilômetros a pé, descalça.
Durante
o caminho, olhando para as montanhas ao seu redor, Mary lembrou as palavras do
Salmo 121:
“Olho
para os montes e pergunto:
‘De
onde virá o meu socorro?’
O
meu socorro vem do Senhor Deus,
que
fez o céu e a terra.”
E
assim Mary seguiu viagem. Atravessou vales e ribeiros em seu caminho até Bala.
Mary ficava cada vez mais cansada. Seus pés doíam muito. Algumas vezes, Mary
chegou a pensar que não chegaria nunca a Bala. Parecia demais para ela. Nesses
momentos, ela tentava encorajar a si mesma:
—
Vamos, Mary, vamos! Não falta muito agora! — ela pensava.
Ao
anoitecer, Mary conseguiu ver uma cidade. Era Bala! O coração de Mary bateu
mais forte. Finalmente ela havia chegado! Mais motivada do que nunca, Mary
continuou novamente, descendo a colina. Chegou a Bala cansada, com fome e com
os pés cheios de bolhas.
Mary
pediu informações para encontrar a casa de um pastor chamado Thomas Charles.
Era ele quem tinha Bíblias para vender. Depois de bater em várias portas e
pedir ajuda, por fim Mary encontrou a casa do pastor. Ela atravessou o jardim
da casa do pastor e bateu com força na porta da frente. Este era o dia que Mary
esperava havia muito tempo. Ela tinha trabalhado e economizado por muitos anos
para ter a sua própria Bíblia.
Quando
a porta se abriu, Mary disse ao pastor:
—
Meu nome é Mary Jones. Eu moro numa vila atrás das montanhas. Andei 40
quilômetros para chegar aqui. Economizei durante seis anos para comprar uma
Bíblia. O dinheiro está aqui nessa bolsa. Se o senhor quiser, pode contar. O
senhor tem uma Bíblia em galês para mim?
Surpreso,
o pastor disse:
—
Mary, por favor, entre e me conte tudo. Mas primeiro você precisa comer alguma
coisa. Além de cansada, você deve estar faminta!
O
pastor sorriu e chamou o mordomo para levar Mary para a cozinha. Depois de ter
se alimentado, Mary contou tudo, detalhe por detalhe, ao pastor. Foi então que
veio a triste notícia:
—
Lamento muito, Mary, mas a única Bíblia em galês que tenho está reservada para
outra pessoa.
Mary
mal podia acreditar. Aquelas palavras acabaram com a esperança que ela
sustentou por todos aqueles anos. Abalada, Mary se afundou em uma cadeira e
começou a chorar.
—
Devo voltar para minha casa sem uma Bíblia, de mãos vazias?! —Mary chorava
desconsolada.
O
pastor ficou sensibilizado ao ver o choro de Mary. Na verdade, ele tinha uma
Bíblia em inglês e outra em galês, e a pessoa que havia encomendado a Bíblia
compreendia os dois idiomas. Então ele disse:
—
Não chore, Mary. Sei que ter uma Bíblia é o sonho de sua vida. Você batalhou
muito para isso e merece ter a sua própria Bíblia. Aqui está. Pode levar. É uma
Bíblia em galês.
Mary
deu um pulo de alegria. As lágrimas secaram e, com muito carinho, abraçou a
Bíblia — aquela Bíblia preciosa era dela!
—
Obrigada, pastor! Muito obrigada!
Na
manhã seguinte, Mary segurou a sua Bíblia com as duas mãos e, transbordando de
felicidade, começou a viagem de volta ao seu lar.
Naquela
tarde, os pais de Mary aguardavam ansiosamente o retorno da filha.
Ao
anoitecer, ela finalmente chegou em casa.
—
Olhe, papai! Olhe! É a minha Bíblia! — dizia Mary, com um sorriso de todo
tamanho.
Depois
de jantar, todos sentaram à luz da lamparina. Pela primeira vez, Mary abriu a
Bíblia em sua casa e leu o Salmo 150:
Aleluia.
Louvem
a Deus no seu Templo...
Louvem
o Senhor
pelas
coisas maravilhosas que tem feito.
(...)
Todos
os seres vivos
louvem
o Senhor!
Aleluia!
Então
a família Jones se ajoelhou para agradecer a Deus pelo maravilhoso tesouro
recebido: uma Bíblia na sua própria língua, a língua que eles compreendiam
melhor.
Mas
a história não termina aqui. Mary Jones se tornou parte de uma história maior
ainda e que dura até os dias de hoje.
Em
seu escritório, de vez em quando o pastor Thomas Charles lembrava como a jovem
menina tinha saído feliz de sua casa abraçando a Bíblia. O pastor ficou
imaginando que deveria haver muitas outras“Mary Jones” querendo Bíblias em seu
país.
Alguns
anos depois, para mostrar a necessidade e a dificuldade de conseguir uma Bíblia
no País de Gales, o pastor Thomas Charles contou a história de Mary em um
encontro de pastores em Londres. Ali, os dirigentes das igrejas fizeram planos
para obter mais Bíblias a preços acessíveis para a população do País de Gales.
Quando foi sugerida a criação de uma organização para fornecer Bíblias para o
País de Gales, um pastor chamado Hughes exclamou:
— É
claro que uma Sociedade deve ser formada com essa finalidade. Mas por que só
para o País de Gales? Por que não para a Grã-Bretanha toda? Por que não para o
mundo inteiro?
E
assim, naquele encontro que reuniu cerca de 300 pessoas, foi fundada a
Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Era 7 de março de 1804. O trabalho
desta sociedade chegou a muitos outros países. Em 1808, por exemplo, o primeiro
carregamento de Novos Testamentos em português foi enviado ao Brasil.
Em
todo o mundo foram criadas Sociedades Bíblicas nacionais. Em nosso país, a
Sociedade Bíblica do Brasil foi oficialmente fundada pelas igrejas cristãs em
10 de junho de 1948. Desde então, a Sociedade Bíblica do Brasil, carinhosamente
chamada de SBB, tem servido às igrejas cristãs e já há alguns anos tem sempre
estado entre as Sociedades Bíblicas nacionais que mais distribuem Bíblias e
literatura bíblica.