Capítulo II
Entretanto, aquele homem sábio compreendia, e tal fato lhe pesava no coração, que a situação deplorável a que chegara o seu país devia-se primeiramente aos mesquinhos hábitos e práticas de seus compatriotas, os quais eram dados a toda sorte de vícios e artimanhas, estando sempre dispostos a ludibriarem uns aos outros, e tendo sido ao fim derrotados e conduzidos à miséria por sua própria desonestidade. Considerou então que não estaria de acordo com a suprema justiça simplesmente distribuir o seu tesouro entre aqueles homens mal-intencionados, os quais, certamente, não eram por si mesmos merecedores de tão grande dádiva. Assim, concebeu um plano, de acordo com o qual aqueles que recebessem certa quantidade de pedras preciosas, suficiente para transformá-los em cidadãos abastados, teriam de demonstrar uma confiança absoluta no seu benfeitor, isto é, nele mesmo. Tal confiança seria, por assim dizer, a chave que lhes abriria a porta para uma vida nova.
O plano foi arquitetado da seguinte maneira:
Primeiramente, o sábio homem determinou uma certa quantidade de joias que seria ofertada a cada um que se mostrasse digno de recebê-las. A quantidade era igual para todos, e suficiente para tornar um homem miserável em rico num abrir e fechar de olhos. Haviam duas condições que seriam apresentadas a cada um para qualificá-lo para receber a dádiva: primeiramente, qualquer que desejasse ter sua parte deveria vender tudo o que possuísse, desfazendo-se dos seus bens e entregando o montante do dinheiro recebido pela venda para o seu benfeitor. Tal exigência era absolutamente a mesma para todos. Tanto aqueles que possuíam apenas uma velha túnica e um par de sandálias rotas, quanto os que eram proprietários de terras, de casas, jumentos, campos...todos deveriam igualmente vender tudo e entregar o valor obtido. Ninguém poderia reclamar de tal sistema pois, independente do que cada um tivesse de vender, o que receberia em troca seria muitíssimo superior ao que deveria entregar. Até mesmo os homens mais ricos daquele país participariam com lucro substancial na transação, tal era o valor da quantidade de joias que havia sido destinada para cada um que aceitasse a troca - e nem mesmo os cidadãos mais abastados estavam impedidos de participarem.
Na verdade, tal sistema proporcionaria a todos os habitantes daquele país como que a oportunidade para viverem em uma sociedade igualitária e rica, como se todos tivessem nascido de novo para uma vida em um mundo ideal. Quando, afinal, todos os moradores da terra tivessem entregue o valor de suas posses ao homem sábio, estariam igualmente abastados e satisfeitos, cada um não possuindo mais do que o seu próximo, independentemente do que eram ou possuíam anteriormente.